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segunda-feira, março 30, 2009

ARTIGO DE POLIS NUNES (membro da Finos) - sobre o cancelamento da temporada no Teatro Xisto Bahia nos dias 28 e 29 de março de 2009

“Não sou eu quem repete essa história, ESSA história é que adora uma repetição...”

Pois é!

Não sou eu, são os “outros”, eu ao contrário faço os meus esforços, eu e os meus companheiros de labuta, de ideologia, de palco, de atuação dentro e fora do espaço dito cênico, pois nossa luta constante se constitui principalmente fora da “cena” para que justamente possamos concretizar nossas ações dentro da “cena”.

FOMOS IMPEDIDOS!

Pela segunda vez, por duas semanas seguidas, sentimentos de angústia e decepção tomaram conta dos integrantes do Grupo de Teatro Finos Trapos.

Dani, Daisy, Chico, Yoshi, Frank, Roberto, Shirley, Ricardo, Évelin, Ian e Eu, estamos assim, desajustados, tentando entender, procurando responder às questões que nós mesmos fazemos uns aos outros. Por quê?

Estamos findando o mês de março, mês em que comemoramos o dia do teatro e do circo, mês em que de certa maneira, nós, artistas, estamos mais abertos, e porque não, mais conscientes, ativos, participativos dos debates, das rodas de conversa, em meio à “conflitos” que ano a ano explodem em meio às datas comemorativas mais importantes para nós, pois paralelo ao fato de comemorar, também reavivamos a nossa vocação de guerreiros, sindicalistas, lutadores sociais, defensores de causas, partidários da nossa arte.

Para a Finos Trapos, esse março de 2009 vai entrar para a história, em quase seis anos de trabalho de Grupo, mais de uma década de trabalho de muitos dos membros que integram o Grupo, que vivem, ou tentam viver, de teatro, foi a primeira vez em que o espetáculo simplesmente não aconteceu, contrariando o verso da música, “o espetáculo não pode parar”, o nosso público não está nem cansado de esperar, está cansado de justificativas, de coincidências infelizes.

A primeira edição do FINOREPERTÓRIO, ação que integra o Projeto Finos Trapos Abrigo e Morada, Projeto de Residência Artística do Grupo no Espaço Xisto Bahia, fracassou.

Essa é de fato uma palavra forte, negativa, pesada, mas no momento, pra mim, não há outra para definir. Falo como produtora da ação, como um dos membros responsáveis em fazer a ação acontecer, fracassou, não deu certo. Pra consolo resta dizer: fica para uma próxima edição.

Que vergonha, que lástima, que tristeza.

Estou indignada, mediante a falta de ação de muitos, mediante a atitudes covardes e passivas. É definitivamente um absurdo ouvir de uma instância de administração de um espaço público, pertencente ao Estado, que uma casa de espetáculos fecha as suas portas em pleno final de semana em virtude de uma greve de funcionários terceirizados, mediante uma ameaça de piquete por parte destes, objetivando impedir uma Instituição de funcionar, Instituição esta que não “precisa necessariamente” destes funcionários para poder funcionar, a prova mais explícita disso, está na realização de espetáculos nessa mesma casa nos dias de quinta e sexta-feira antecedentes ao fato, e também mediante ao funcionamento normal da outra casa de espetáculos, também pertencente ao Estado, também guardada por esta mesma classe de trabalhadores que se encontram em movimento grevista.

O que seria isso?

O que explica?

O que justifica isso?

Na semana passada, dias 21 e 22 de março, a programação do Espaço Xisto foi interrompida mediante uma danificação do aparelho de ar-condicionado que refrigera todo o Complexo dos Barris, Teatro, Biblioteca, Salas de Cinema e Galeria de Arte.

O problema não pode ser resolvido a tempo, as edições do espetáculo Sagrada Folia foram canceladas, bem como a edição de um outro espetáculo que se realizaria no domingo pela manhã. No sábado, dia em que o problema foi detectado, o espetáculo da tarde, o infantil DIA DE CIRCO do Grupo VIAPALCO, foi realizado sem a refrigeração necessária, pois o público já estava presente na casa quando foi avaliado que o problema não tinha como ser resolvido naquele dia, no domingo este mesmo Grupo, cobriu a pauta do dia com a realização de um outro espetáculo, um monólogo, onde acredito que utilizasse um número menor de refletores para a execução das cenas, visto que a grande questão do impedimento da realização dos espetáculos ocorreu por conta de que a refrigeração do espaço é condição fundamental para o uso do equipamento de iluminação que proporciona altas temperaturas no espaço, necessitando assim do uso do ar-condicionado.

Uma questão técnica!

Assim entendemos o problema apesar de aproveitarmos tal ocorrido, para criticarmos o sucateamento dos espaços públicos, a falta de manutenção, o descaso. Que o diga o artigo do amigo Chico, publicado semana passada em seu blog pessoal, artigo o qual assino embaixo.

É sabido que o Espaço Xisto, e dizemos isso não só por que convivemos no espaço há pouco mais de seis meses como Grupo Residente, mas também como público que o freqüenta, necessita de algumas intervenções físicas, de uma reforma, de ajustes para que possa oferecer condições de trabalho mais justas para os profissionais que atuam naquela casa.

Naquele sábado voltamos para casa, apesar de desajustados, estávamos cientes de que aquela era uma providência administrativa, “correta” para a ocasião, que acarretou prejuízos para nós, para as outras apresentações agendadas, mas que não tínhamos como colocar em risco, o bem-estar físico do nosso público, a nossa integridade física também, que estaríamos ali trabalhando, naquilo que a gente mais gosta de fazer, sendo felizes e fazendo muita gente feliz.

Passou!

A semana começou e retornamos ao trabalho, às aulas, às nossas atividades cotidianas que correspondiam também ao fato de divulgar o reajuste das datas, de informar ao público que no próximo final de semana realizaríamos no sábado uma edição do espetáculo SAGRADA FOLIA e no domingo, uma edição do espetáculo AUTO DA GAMELA.

Estávamos felizes, pois encontramos uma forma de contemplar o FINOREPERTÓRIO mesmo mediante ao ocorrido no fim de semana, mesmo os espetáculos realizando apenas uma edição cada um ao invés de duas como fora planejado. E seguimos a semana gastando dedos e saliva, divulgando via internet e no boca a boca, usando e abusando do nosso discurso de “vendedores” da nossa arte.

Hoje, ou melhor, sábado e domingo, tem espetáculo???

Tem sim senhor!!!

O Grupo e a produção entenderam da melhor maneira possível, que problemas técnicos de toda natureza acontecem, na hora que tem que acontecer e que nem sempre é confortável para todo mundo, como não foi para nós não poder realizar SAGRADA FOLIA naquele sábado e domingo. Mas...

Mais uma vez, FOMOS IMPEDIDOS!

Pelo motivo já citado acima, e por esse motivo, e justamente por ter acontecido o que aconteceu nos dias 21 e 22, entendemos que essa Instituição não podia de jeito nenhum, ter nos impedido de trabalhar neste fim de semana, e por isso, entendo tal atitude como covarde, como falta de interesse em buscar outras maneiras para resolver o já referido problema, como solução confortável, não-polêmica e “justa” se é que podemos assim classificar, para apenas uma das partes.

Não aceito!

Repudio tal atitude, taco ovos e tomates, profiro vaias, derramo lágrimas de decepção e revolta.

Classifico isso como a mais completa falta de respeito para com os artistas, não só os envolvidos, não só com os integrantes do Grupo Finos Trapos e do Grupo Via Palco, mas desrespeito a uma classe de trabalhadores que luta constantemente por espaço, por condições decentes de trabalho, por valorização da profissão, por mercado, por tantas outras reivindicações.

Estou cansada de aceitar, de ser conivente com atitudes como essas! Exijo respeito, diálogo para resolver questões dessa natureza, a Administração do Espaço Xisto Bahia sabia o que implicava o impedimento de mais duas edições do FINOREPERTÓRIO, não consultou o Grupo para juntos tomarmos uma decisão que fosse justa, simplesmente informou-nos o ocorrido afirmando que se tratava de uma decisão de uma instância maior, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, órgão que administra o referido espaço, órgão que também administra o Teatro Castro Alves que NÃO fechou as suas portas nos dias 28 e 29 de março em virtude de uma greve de vigilantes.

Eu quero uma justificativa para essa questão!

Plausível, aberta, e lógica!

Como membro do Grupo de Teatro Finos Trapos, como artista de teatro, faço dessas linhas um desabafo, uma respiração.

Preciso de motivos para continuar acreditando que vale a pena ser artista nessa cidade, tantas vezes vendida às vaidades e promoções pessoais, tantas vezes refém de uma falta de tato absurda, de uma total falta de compreensão e de democracia cultural.

Será se esta existe?

Tenho muitas dúvidas...

Acho que fico por aqui, estou disposta a ouvir agora, é assim que se concorda com os coletivos, que se vive em coletivo, com as opiniões e expressões de muitos.

Só sei que não me rendo!

Polis Nunes

Atriz, Licenciada em Artes Cênicas e Graduanda em Produção em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia, sócia fundadora do Grupo de Teatro Finos Trapos, Grupo Residente do Espaço Xisto Bahia – FUNCEB.

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